No Brasil, ninguém tem propriedade para falar da violência. Nem o vulgo nem o douto se mostram aptos a um tal ofício. De certa forma, tivemos nossas licenças cassadas pelo estado calamitoso - para não dizer apocalíptico - em que vivemos. Imersos em tal situação, vamos ficando cada vez mais insensíveis, petrificados, e isso se reflete na extinção do pensamento crítico, no soterramento de todo impulso libertário, e por aí vai, até o ponto em que nos tornamos fascistas em potencial. Fica até difícil falar de um assunto tão delicado. Toda cautela é pouca. Pressentimos que toda tentativa de falar de forma honesta pode incorrer na hipocrisia. Quais são os sentimentos e intenções em jogo? Como evitar o egocentrismo, o exibicionismo? Como tornar mais autêntica a expressão... ou menos inautêntica?
Qualquer manifestação além do mero mal-estar subjetivo parece ser luxo perto da merda que vemos todo dia. E ainda, qual seria o valor da arte (e já se perguntavam isso os dadaístas em meados do século XX) frente à barbárie? A arte se justificaria ainda, a despeito da patente ausência do Belo? Como ouvir uma bela sinfonia se o som de fundo permanece sendo o de gritos de horror?
Qual o combustível da arte hoje em dia? Qual a sua motivação? Seria a positividade? Encher o mundo daquilo que ele não tem? É preciso indagar qual o sentido de pintar lagos cristalinos quando eles se tornaram uma espécie em extinção, subsistindo a não ser em nossos inventários. Daqui a pouco esqueceremos a imagem (autêntica) do mundo. Perderemos a noção de verdadeiro, que segundo Debord seria já um apêndice do falso, um "momento" deste. Na propaganda e no cinema, nas novelas e revistas de moda, encontramos um mundo completamente outro, cheio de luz. Mas onde está a semelhança?? Mesmo quando se retrata a guerra ou a miséria, isto nada remedia. A patética dramaticidade, ingrediente indispensável para o sucesso comercial, é aplicada em dose calculadamente exagerada. De repente, num passe de mágica, até a merda da guerra vira uma bela obra cinematográfica. É preciso abrir os olhos para aquilo que Adorno chamou "Indústria Cultural" (ou "o Iluminismo como mistificação das massas"). Para Adorno, até onde sei, o último traço de resistência num mundo subsumido pelo capital estaria na arte. A arte teria a função de expressar a negatividade, o "não-idêntico", de alimentar o descontentamento.
-------------------------------------------------
As discussões recentes em torno do filme "Tropa de Elite" (que eu ainda não vi) mostram o quanto estamos próximos do fascismo, ou o quanto a população é capaz de se identificar com o tal "Capitão Nascimento", de vibrar a cada tiro que ele desfere, a cada pontapé na cara do bandido. João Paulo Cuenca escreveu sobre como a sessão de pré-estréia se tornou um ritual de descarrego: o público, num "frisson de adrenalina", aplaudindo de pé a truculência dos "mocinhos". Há quem diga que o próprio filme faz do personagem (um torturador) um herói... não posso dizer nada pois ainda não o vi.
--------------------------------------------------------
Denúncia: a violência está a tal ponto integrada ao nosso cotidiano que daqui a pouco será difícil distingui-la da paisagem. Quem sabe logo chegue o dia em que não mais constará nas páginas dos jornais, pois que de tão corriqueiro, deixou de merecer o seu espaço entre as notícias. Mas não falo só da violência direta, perceptível, da troca de tiros e das excursões da polícia nas favelas, do Caveirão etc. Falo da violência de um modo geral, da degradação das relações humanas, da insensibilidade e indiferença generalizadas. Falo dos cortadores de cana no Nordeste assim como dos executivos de São Paulo. Falo do trânsito e dos desaforos-que-não-são-levados-para-casa. Falo do racismo e do sexismo. Do assassínio da personalidade humana pelo processo de conformação ao trabalho - processo este que todos nós estamos inseridos, sejamos meros "estudantes" ou não. Falo da imprevidência da classe média, do discurso intolerante do plebeu. Do ódio compartilhado das torcidas de futebol. Falo dos jornais. Sim, pois a imprensa apenas aparentemente presta um serviço à sociedade: a médio ou longo prazo, compromete os sentidos, e assim vamos sendo esvaziados. Com efeito, não podemos mais nos pretender "puros", ou pretender a existência de um "sujeito revolucionário" puro. É uma ingenuidade muito grande. Como se, imersos nos mecanismos viciados do sistema, pudéssemos estar isentos de suas contradições. É aqui que o mito da "pureza ideológica" se arrebenta violentamente contra o muro da economia globalizada. Se todas as ações estão imbricadas (a nível mundial), não tem mais como escapar das garras do pecado. Ir no cinema pode ser tão criminoso quanto servir os EUA no Iraque. O dinheiro passa de uma mão a outra, e o (hoje colossal) edifício da divisão social do trabalho contribui mais do que nunca para a completa alienação do indivíduo.
Pois acertou quem disse que o Brasil é a "fratura (exposta) do mundo". Como se sabe, a essência do capitalismo é a violência. Se um dos marcos históricos da modernização foi a expropriação das terras comunais na Inglaterra em proveito da criação de lã para a indústria têxtil, o Capital continua sendo, todavia, um "processo-forma", um "processo de formação das relações sociais" (Holloway). Seria um processo de separar o fazer do feito, os trabalhadores dos seus meios de vida, o trabalho manual do intelectual e assim por diante. Um processo contínuo de privação, de cercar e delimitar, de des-socialização das pessoas.
E onde residiria a esperança? Para encontrá-la temos que olhar a coisa do ponto de vista do "não-idêntico", isto é, daquilo que, embora existindo sob a sombra do capital, contraria secretamente a sua lógica. Holloway explica que o capitalismo não "é": ele não "foi" um dia no século XVIII e agora, infelizmente, teríamos que suportá-lo "até que", num belo dia, haja a revolução. O processo (violento) de imposição do capitalismo gera um contra-processo, o impulso pela autodeterminação social. Se o capitalismo é a negação de nossa dignidade, de nossa humanidade, não temos outra escolha a não ser erigir barricadas (subjetivas) e declarar guerra.
Nós somos o "sentido consistente da não-identidade", "negação da negação": à negação de nossas vidas, respondemos com um Não ressonante. O ponto de esperança reside em que o capital não é uma coisa, e sim uma relação social. Ele só existe a partir do momento em que o fazer humano é conformado ao trabalho abstrato, produtor de mercadorias, separado no tempo e no espaço das demais atividades. Se a conformação falhar, se os trabalhadores se rebelarem contra a contenção da sua atividade, a existência do capital está sofrendo sério risco. A subversão do trabalho em um fazer criativo, livre, autodeterminado e sobretudo sensível às necessidades, subversão que só pode vir de dentro, é o segredo da transformação social. Criar outras formas de relacionamento social amplo para além do dinheiro e da mercadoria constitui a idéia-chave do anticapitalismo. E isso pode ser alcançado de várias maneiras, pois o próprio mundo que nos espera seria um mundo plural.
Resta saber se ainda tem volta. Não podemos mais ter certeza de nada. Será que depois de tanta merda, da bomba atômica e das duas grandes guerras e do 11 de Setembro haveria ainda espaço para sonhar? O peso da violência é tão grande que é capaz de suprimir todo impulso libertador nas pessoas. E assim caminha a humanidade, pendendo cada vez mais para o fascismo, para os fundamentalismos (religiosos ou não) e nacionalismos. O povo quer sangue. Em plena crise da sociedade da mercadoria, quem poderá nos ajudar? Bush? Capitão Nascimento? Bin Laden? Le Pen? Lula? Deus? Fica a pergunta de quem seria o melhor ditador.
Qualquer manifestação além do mero mal-estar subjetivo parece ser luxo perto da merda que vemos todo dia. E ainda, qual seria o valor da arte (e já se perguntavam isso os dadaístas em meados do século XX) frente à barbárie? A arte se justificaria ainda, a despeito da patente ausência do Belo? Como ouvir uma bela sinfonia se o som de fundo permanece sendo o de gritos de horror?
Qual o combustível da arte hoje em dia? Qual a sua motivação? Seria a positividade? Encher o mundo daquilo que ele não tem? É preciso indagar qual o sentido de pintar lagos cristalinos quando eles se tornaram uma espécie em extinção, subsistindo a não ser em nossos inventários. Daqui a pouco esqueceremos a imagem (autêntica) do mundo. Perderemos a noção de verdadeiro, que segundo Debord seria já um apêndice do falso, um "momento" deste. Na propaganda e no cinema, nas novelas e revistas de moda, encontramos um mundo completamente outro, cheio de luz. Mas onde está a semelhança?? Mesmo quando se retrata a guerra ou a miséria, isto nada remedia. A patética dramaticidade, ingrediente indispensável para o sucesso comercial, é aplicada em dose calculadamente exagerada. De repente, num passe de mágica, até a merda da guerra vira uma bela obra cinematográfica. É preciso abrir os olhos para aquilo que Adorno chamou "Indústria Cultural" (ou "o Iluminismo como mistificação das massas"). Para Adorno, até onde sei, o último traço de resistência num mundo subsumido pelo capital estaria na arte. A arte teria a função de expressar a negatividade, o "não-idêntico", de alimentar o descontentamento.
-------------------------------------------------
As discussões recentes em torno do filme "Tropa de Elite" (que eu ainda não vi) mostram o quanto estamos próximos do fascismo, ou o quanto a população é capaz de se identificar com o tal "Capitão Nascimento", de vibrar a cada tiro que ele desfere, a cada pontapé na cara do bandido. João Paulo Cuenca escreveu sobre como a sessão de pré-estréia se tornou um ritual de descarrego: o público, num "frisson de adrenalina", aplaudindo de pé a truculência dos "mocinhos". Há quem diga que o próprio filme faz do personagem (um torturador) um herói... não posso dizer nada pois ainda não o vi.
--------------------------------------------------------
Denúncia: a violência está a tal ponto integrada ao nosso cotidiano que daqui a pouco será difícil distingui-la da paisagem. Quem sabe logo chegue o dia em que não mais constará nas páginas dos jornais, pois que de tão corriqueiro, deixou de merecer o seu espaço entre as notícias. Mas não falo só da violência direta, perceptível, da troca de tiros e das excursões da polícia nas favelas, do Caveirão etc. Falo da violência de um modo geral, da degradação das relações humanas, da insensibilidade e indiferença generalizadas. Falo dos cortadores de cana no Nordeste assim como dos executivos de São Paulo. Falo do trânsito e dos desaforos-que-não-são-levados-para-casa. Falo do racismo e do sexismo. Do assassínio da personalidade humana pelo processo de conformação ao trabalho - processo este que todos nós estamos inseridos, sejamos meros "estudantes" ou não. Falo da imprevidência da classe média, do discurso intolerante do plebeu. Do ódio compartilhado das torcidas de futebol. Falo dos jornais. Sim, pois a imprensa apenas aparentemente presta um serviço à sociedade: a médio ou longo prazo, compromete os sentidos, e assim vamos sendo esvaziados. Com efeito, não podemos mais nos pretender "puros", ou pretender a existência de um "sujeito revolucionário" puro. É uma ingenuidade muito grande. Como se, imersos nos mecanismos viciados do sistema, pudéssemos estar isentos de suas contradições. É aqui que o mito da "pureza ideológica" se arrebenta violentamente contra o muro da economia globalizada. Se todas as ações estão imbricadas (a nível mundial), não tem mais como escapar das garras do pecado. Ir no cinema pode ser tão criminoso quanto servir os EUA no Iraque. O dinheiro passa de uma mão a outra, e o (hoje colossal) edifício da divisão social do trabalho contribui mais do que nunca para a completa alienação do indivíduo.
Pois acertou quem disse que o Brasil é a "fratura (exposta) do mundo". Como se sabe, a essência do capitalismo é a violência. Se um dos marcos históricos da modernização foi a expropriação das terras comunais na Inglaterra em proveito da criação de lã para a indústria têxtil, o Capital continua sendo, todavia, um "processo-forma", um "processo de formação das relações sociais" (Holloway). Seria um processo de separar o fazer do feito, os trabalhadores dos seus meios de vida, o trabalho manual do intelectual e assim por diante. Um processo contínuo de privação, de cercar e delimitar, de des-socialização das pessoas.
E onde residiria a esperança? Para encontrá-la temos que olhar a coisa do ponto de vista do "não-idêntico", isto é, daquilo que, embora existindo sob a sombra do capital, contraria secretamente a sua lógica. Holloway explica que o capitalismo não "é": ele não "foi" um dia no século XVIII e agora, infelizmente, teríamos que suportá-lo "até que", num belo dia, haja a revolução. O processo (violento) de imposição do capitalismo gera um contra-processo, o impulso pela autodeterminação social. Se o capitalismo é a negação de nossa dignidade, de nossa humanidade, não temos outra escolha a não ser erigir barricadas (subjetivas) e declarar guerra.
Nós somos o "sentido consistente da não-identidade", "negação da negação": à negação de nossas vidas, respondemos com um Não ressonante. O ponto de esperança reside em que o capital não é uma coisa, e sim uma relação social. Ele só existe a partir do momento em que o fazer humano é conformado ao trabalho abstrato, produtor de mercadorias, separado no tempo e no espaço das demais atividades. Se a conformação falhar, se os trabalhadores se rebelarem contra a contenção da sua atividade, a existência do capital está sofrendo sério risco. A subversão do trabalho em um fazer criativo, livre, autodeterminado e sobretudo sensível às necessidades, subversão que só pode vir de dentro, é o segredo da transformação social. Criar outras formas de relacionamento social amplo para além do dinheiro e da mercadoria constitui a idéia-chave do anticapitalismo. E isso pode ser alcançado de várias maneiras, pois o próprio mundo que nos espera seria um mundo plural.
Resta saber se ainda tem volta. Não podemos mais ter certeza de nada. Será que depois de tanta merda, da bomba atômica e das duas grandes guerras e do 11 de Setembro haveria ainda espaço para sonhar? O peso da violência é tão grande que é capaz de suprimir todo impulso libertador nas pessoas. E assim caminha a humanidade, pendendo cada vez mais para o fascismo, para os fundamentalismos (religiosos ou não) e nacionalismos. O povo quer sangue. Em plena crise da sociedade da mercadoria, quem poderá nos ajudar? Bush? Capitão Nascimento? Bin Laden? Le Pen? Lula? Deus? Fica a pergunta de quem seria o melhor ditador.
4 comentários:
Não acho que existe uma "realidade verdadeira" que possa ser retratada em oposição aos "belos lagos irrealistas", podemos dizer que ambos são fantasias, constructos inconstruidos (na medida em que dependem apenas parcialmente de nossa vontade)... qual o valor do quadro? Qual é a fantasia que subjaz sua formação? Um pintor pode dar margem a essa fantasia... o problema é quando perde-se a poesia, a alma em troca do espírito, e então as coisas passa a "ser como são"... é o velho Senex, lógico, racional... quem sabe? Talvez seja preciso brincar, brincar as cores, com as formas, com novas maneiras de relação, de organização social... enfim..
Sobre a tragédia de nosso mundo, infelizmente é algo evidente e chega a ser assustador ver a "classe" pobre muitas vezes mais reacionária do que a classe média ou endinheirada, não que isso seja uma regra, evidente... enfim, é algo muito louco, na verdade paresse existir varias classes pobres, varias classes médias, varias classes ricas, numa divisão toscamente criada... por exemplo, a mentalidade na maioria das favelas é uma, dos funqueiros, a mentalidade de quem é igualmente pobre, mas mora as margens da favela é completamente outra... (vou falando, apesar de não ter propriedade do assunto, rs)
Sim, pode ser que ambos sejam constructos, fantasias. A maneira de retratar nunca pode ser inteiramente "objetiva", pois a dita "realidade" só passa a ter existência a partir do crivo da subjetividade, do autor/ator. Depende sempre de quem a observa. Mas.. qual seria o limite disso? Falo mesmo de um julgamento crítico da arte. Será que uma arte que represente o belo, o positivo, seria legítima? Ela não se choca necessariamente com a realidade, ou de outro ponto de vista, não serve para mistificá-la? Pois o papel da arte seria, teoricamente, representar a realidade (não esquecendo o peso do observador). A figura de um belo lago nos faz esquecer o, digamos, "peso concreto" da poluição e exploração canibal dos recursos hídricos/naturais, nos torna distantes da opressão, nos conduz a um passeio confortável para longe da nossa experiência des-confortante, da parte rebelada que existe em cada um de nós. Quer dizer, não estaria servindo para abrandar a realidade crua do capital? Ou então, no caso da valorização da fantasia, não estaríamos nos iludindo quanto ao alcance de nossas próprias fantasias, desejos? Uma forma de legitimação do "esclarecimento", em que os seus ideais de "liberdade", "igualdade" e autodeterminação apareceriam como já efetivos. Mas desde quando somos "sujeitos", na plena acepção do termo? O capital é a usurpação contínua de todos os meios de exercermos nossa autonomia, ou seja, de exercermos nossas subjetividades, para além de coerções físicas/morais/econômicas. Através de suas instituições (Estado, dinheiro, mercado, subjetividade determinada), o capital nos reduz diariamente ao papel de "suportes" de seu movimento.
E aqui teríamos que pensar, talvez, numa apreensão dialética do problema: sim, a realidade não existe independente da subjetividade, da interpretação etc, mas tampouco o peso da subjetividade corrompe o conceito de realidade, enquanto algo que existe para além do subjetivo. Não falo de transformar a arte em algo lógico, racional, mas de discutir o seu papel negativo, de desconstrução da "áurea utópica" que cobre o capitalismo, de fortalecimento do sentimento de rejeição. Debord fez isso quando exibiu um de seus filmes. Os espectadores esperavam um "lazer", algo que aliviasse o mal-estar, que os fizesse esquecer a semana de trabalho... expectativa frustrada quando o filme começou a passar. Se tratava de uma tela negra na maior do tempo com alguns comentários esporádicos de Debord ao fundo. A frustração foi tão grande que a sessão acabou num grande tumulto, com a sala de projeção toda quebrada. A quebra da expectativa, da "rotina", produziu uma erupção que era exatamente o que Debord esperava de seu filme. Enfim... é por aí.
A questão não é que existe uma imagem verdadeira do mundo em contraposição à fantasia. Quando Debord fala, nas primeiras linhas, que "tudo que era diretamente vivido se afastou numa representação", está falando também da falsificação dos sentidos, da degradação da experiência, experiência fabricada, sintetizada, infinitamente mediatizada. Exemplo (bobo-porém-verdadeiro): é fácil sentir um choque quando tomamos leite direto da vaca (posso contar nos dedos de uma mão só quantas vezes fiz isso... hehe). O leite que nos chega pela indústria, é um leite "falseado", batizado com mil e um produtos químicos. Nosso paladar reage diferentemente. Ou então quando saímos da cidade e vamos para o campo. Nossos sentidos entram em parafuso: visões, paladares, cheiros diferentes. Estamos tão carregados com a ambiência da urbe, com a visão cansativa dos sucessivos outdoors, com o ruído do trânsito etc, que se torna um grande choque. E é impossível não sentir algum mal-estar vivendo nestes "grandes cinzeiros" que são as cidades, recheadas de violência gratuita que são, do espírito canibal de concorrência, da poluição sonora/visual e do meio ambiente.
A imagem idílica do campo passa a ser um reconfortante artifício usado pela propaganda, pelo cinema etc, a imagem ideal de uma vida autêntica brilha nos comerciais de margarina (rs...). Tudo isso é espetáculo. Pura representação, mediatização. Os espectadores devem contentar-se com a leitura do cardápio, dizia Adorno.
Se perdemos a noção de falso e verdadeiro - e na verdade, somos todos um pouco pós-modernos nesse sentido (rs) -, pode ficar um pouco complicado. As mentiras lavadas de um George W. Bush podem então passar incólumes..
a arte não existe pra isso... Debord é uma ameba..
Postar um comentário