segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Da miséria do meio estudantil-universitário


Pode-se afirmar sem grande risco de erro, que não há ser mais universalmente admirado no Brasil(depois dos atores globais e do BOPE) que o estudante universitário. A universidade, esta mãe gorda e gentil que acalenta os sonhos mercantilizados(ou seja, tornar-se dirigente de algum projeto revolucionário ou de algum holding transnacional – no fundo ambas costumam funcionar sob a mesma estrutura hierárquico-organizacional)[1] do estudante universitário, geralmente está circunscrita numa formação geográfica rodeada de mar, que os professores chamam carinhosamente de “linguagem acadêmica” e que é a responsável pelo lustro da armadura moral que o universitário tem de vestir na selva de pedra do conhecimento senso comum.

Não há mais dúvida, dentro do atual esquema de organização econômica e social, que há uma função central do universitário que corresponde às expectativas dos controladores deste sistema(gestores de capital [2] e gestores de trabalhadores [3]), que é a manutenção do status quo e das estruturas de poder, estruturas que o retro-alimentam e já fazem parte das mais modernas técnicas de engenharia social: a simulação. Esta estrutura é indispensável à ilusão democrática, já que mercantiliza a rebeldia em forma de tinta-guache para caras-pintadas ou papel carbono para cédulas de eleições do C.A dando a impressão de que há por fim uma esquerda oposicionista “radical”(a dona-de-casa iludida acredita piamente que seu rapazote de 23 anos vai ao encontro nacional de estudantes de sua categoria para resolver o problema da classe trabalhadora e da opressão por gênero, mas isto não é o pior, ele também!).

Cientes desta incrível capacidade de dissimular, não é de se espantar a quantidade de micro-exércitos da salvação(com suas hierarquias vermelhas, medalhinhas e fardas) atuando dentro do seio da mater universidade; todos querem apropriar-se dos melhores “quadros” da elite intelectual de dissimuladores do país, para endossarem seus projetos de conquista do poder com uma base social dirigida, também chamada pelos esquerdistas e autonomistas de rebanho.[4]

Mas criar simuladores de rebeldia e novos(velhos) forjadores de consciência crítica custa tempo e dinheiro ao estado brasileiro, é bom lembrarmos que o dinheiro, muito além de ser um meio de circulação, e específicamente o dinheiro do estado é obtido através de impostos(ou seja, este imposto é pago pela exploração dos trabalhadores da sua aula de sociologia I), ou seja mais-valia em circulação(este conceito novo, criativo, tesudo e revolucionário é meu).

Vejamos o exemplo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, universidade pública[5] que custa aos cofres públicos anualmente cerca de(lembremos: exploração e mais-valia acumulada) 525,7 milhões, dinheiro suficiente para construir 8.750 casas populares. Didáticamente o esquema funciona assim: os trabalhadores(os explorados da aula de sociologia I, isto cai na prova, anote) sustentam a universidade, que por sua vez vai gerar a elite intelectual do país.

Lembremos que segundo um pensador francês desconhecido citado pelo diploma de seu professor, esquematicamente a elite intelectual se divide em dois grupos: a) gestores de capital e b) gestores de trabalhadores e é óbvio que há aqueles que se enquadram nos dois grupos(como o governo do Pt por exemplo). Esta elite por sua vez, decide como o dinheiro do governo vai ser aplicado(entram em cena os gestores do capital) ou dizer como os trabalhadores devem se comportar frente à aplicação deste recurso(entram em cena os gestores de trabalhadores). Além disso, são eles que decidem como a casa vai ser construída, o que é o conceito de moradia segundo Foucault e Marx, a epistemologia do discurso dialético na composição arquitetônica da miséria, e por fim, quem realmente tem a culpa nisto tudo(o neo-liberalismo, o governo lula, mas jamais aponte o dedo para si mesmo!).

Felizmente, há gente mal instruída, lutando por terra, ocupando prédios abandonados, lutando por trabalho, enfrentando o estado e o capital, mas não se preocupe estudante! Você ainda pode assistir tudo de camarote, você paga meia-entrada!!!

Por Mr. Durden Poulain (que por um acaso infeliz do destino também é estudante universitário mas não vê a hora de sair desta condição pútrida e vil)

pseudocontos@gmail.com http://dedoscruzados.blogspot.com

[1] Se fracassar nesse aspecto tem em aberto algumas opções: dar aulas em escolas e universidades e formar outros universitários para reproduzirem o processo(os chamados psico-demagogos).

[2] Os gestores de capital são vulgarmente chamados de “capitalistas”.

[3] Os gestores de trabalhadores são vulgarmente chamados de “partidos políticos”.

[4]. Esquerdismo é “(...)o que é mais radical do que meu partido reformista consegue ser e aquilo que eu não consigo aparelhar...” ou segundo Lênin, uma doença de pele infanto-juvenil.

[5] Definição de Público segundo o Dicionário Ediouro da Língua Portuguesa: 1. Do ou relativo ao povo; 2. De uso comum. Evidentemente não se aplica de nenhuma forma ao caso citado.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ex-pE(NTE)lh(ando) a alma do blog..


Estava pensando sobre este blog, sobre sua dinâmica, sobre como ele atua, especialmente em sua interioridade. Pensava sobre os posts, sobre a organização teórica e prática das pessoas que aqui se manifestam. É engraçado, os posts realmente parecem ser polimorfos, assuntos variados, formas variadas de escrita, até mesmo pensamentos diversos, entretanto, existe um nexo comum, eu diria até mesmo um desejo de estar-com.

Não sei se é exatamente dessa forma, uma comunidade de escritores, ou pseudo escritores. Não sei se posso chamar assim, mas me parece algo parecido. Não tanto uma escola, como brincamos uma vez, a escola de Isabelfurt: mais uma comunidade. Escolas normalmente exigem uma espécie de institucionalização: formação, instrução, e, normalmente, hierarquia. Não também uma comunidade qualquer, mas algo como um carnaval, como disse num antigo posto do blog. Certo é que esta fantasia carnavalesca é de todo minha, alguns talvez sejam mais sérios que eu, não que eu ache que ver tudo isso como fantasia carnavalesca não seja sério: ao contrário, é bem sério. Talvez uma palavra melhor que carnaval seja politeísmo.

É comum vermos dissidências neste espaço: remeto os leitores, p.ex., a longa discussão sobre H.Bey e Booktchin, e também mesmo a toda discussão atual sobre luta de classes, a qual preferi mani-festar-me apenas através de comentários. Flashes rápidos e leitores desatentos podem enganar-se ao ler este blog, isso pode ser visto mesmo no último post sobre luta de classes. Quando falo em meu comentário: “A luta de classes não existe” este é um enunciado de choque, da mesma forma que pode chocar a um militante de esquerda quando o Guerra critica da maneira tão aberta aspectos da luta de classes. De outro lado, quando o Mr.Durden se refere a capacidade política dos cidadãos a luz do anarquismo no seu post retoma a positividade das potencias políticas, vê as coisas através de um aspecto mais positivo, de um sentido mais próximo ao anarquismo histórico e organizado, ai, talvez, possa afastar pessoas interessadas apenas em diversão, pós-modernos e afins, aliás, não sou poucas as porradas neste grupo.

Alguns integrantes do blog, dentre os quais me incluo, estão organizando agora um pequeno jornal, chamado Colapso. Acho que o caminho deste jornal não tem como ser diferente. A pergunta persiste: por que se deveria ter atenção ao ler este blog, ao ler o futuro Colapso? Talvez porque é possível observar apenas as divergências e não ver o nexo comum que os autores aqui compartilham, ou, as vezes, tentam desesperadamente compartilhar. Nosso blog me parece estar entre uma linha de fogo, é possível que seja esse o preço pago por não se estar “nem aqui nem lá”. Por um lado sofremos criticas de nossa modernidade, estamos caducos, somos Senex (velhos), tradicionais, clássicos, ranzinzas: queremos salvar a luta de classes, salvar o comunismo (mesmo que o anarco-comunismo), queremos salvar o ideal revolucionário. Por outro, somos os pós-modernos, sob a sombra do Puer Aeternus (eterno adolescente). Estamos na linha de frente de um pensamento esquizofrênico, ou, pelo menos, esquizofreniforme, que perde suas raízes com as massas, um pensamentinho intelectualoide e bestoide, divertidinho, louco, que não tem nexo com a suposta realidade. Me parece que o blog, entendido como entidade, toca ambos os pontos sem se fixar em nenhum. Não me entendam mal, não existe aqui apenas um mito de unificação, mas também um Thanatos, um desejo ardente de separação...

Não quero ficar aqui como apologético, nem como crítico, mas devo ressaltar que em muito me agrada não apenas o caráter anti-autoritário, anti-estatal, revolucionário do blog, um caminho que não se limita a um aspecto econômico, social, mitológico, epistemológico, mas também sua estrada múltipla, de bifurcações das mais inusitadas, inesperadas, intempestivas, todo seu colorido anti-monoteista, que procura re-visar – como uma midrash judaica - as mais diversas frontes, nem que seja colocando uma nova vírgula onde havia um ponto final.

A este post, um tanto estranho, espero que sirva para abrir discussões sobre a própria dinâmica do blog, como um olhar no espelho, um olhar rápido, não aquele que se prende ao espelho, não um Narciso. Que ecoe, mas não como uma Eco. Acredito que o blog está em luta ainda, cria alguma luta, e fornece óculos e armas as mais variadas a diferentes estilos de atitude, luta, transformação. Seja numa organização, seja no próprio cotidiano: na faculdade, no trabalho, no estágio, na relação com o vizinho.

O post também não deixa de ser uma pergunta aos supostos leitores do blog, digo supostos porque não sei se de fato se este blog tem leitores, rs. Talvez a sua estranha interface ajude nesta des-leitorização... Sem um tema específico, sem um estilo de linguagem único, sem um Deus único aceito incondicionalmente... A pergunta fica: como vocês vêem isso tudo? Toda essa bagunça organizada? Como criar interfaces significativas para o novo milênio? Como, para que, e onde trans-formar – o mundo, as relações, o blog?