terça-feira, 9 de outubro de 2007

Manual do libertário PÚSmoderno


Manuais me assustam. São insosos, quadrados, sistematizados e ensinam-nos regras. Não odeio as regras em geral, odeio geralmente quem as ensina. Pó de giz acompanhado destas me dá sinusite. E sinusite me lembra remédios para o nariz, que me lembra a indústria farmacêutica, que me lembra o capitalismo, que me lembra os panfletos dos partidos trotskystas. Não, eu simplesmente não quero falar disto.

Se eu parar cinco minutos para sistematizar minha vida, tenho certeza que ela acaba. Tente fazer com a sua. A vida funciona bem é no caos. Tem lá seus problemas, seus efeitos colaterais(como descobrir que se está inscrito em História Antiga II três meses depois das aulas terem começado) mas em geral toda dicotomia vida x morte tem lá seu encanto. Sem dicotomias não existiriam filmes japoneses, times de futebol e toda a civilização ocidental. E sem humor não haveria o Maio de 68, as anedotas sobre Bakunin e boa parte do movimento anarquista(a parte boa... a boa parte...). Aliás como não perco a oportunidade de um bom mote(e motes devem sempre ser utilizados para justificar atitudes irresponsáveis, mesmo em manifestações individuais de auto-afirmação): "Se não posso dançar não é minha revolução." Boa leitura.

Alguns dizem que não há esse negócio de vida e morte. Que a morte faz parte da vida. E outros vão além. A própria morte é a vida. Viver é morrer(viveeeer.. e não ter a vergonha de ser feliz...). Morrer é viver. O Amor faz da vida um morrer amargo e lento, mas que horrorosa a vida de quem não vive morrendo(*).

Dizem também que a validade do conselho ou do discurso vale de onde vêm. É o que chamam de poder. O poder do discurso, sua legitimidade. Tente explicar isso para cinquenta straight-edges num show de hardcore crossover, simplesmente não funciona.

A partir disto, só vejo utilidade neste texto a partir do que ele ensina para mim. Não há autoridade acadêmica que resista a uma linguagem contra-cultural e autoridade contra-cultural(e há muitas, tantas quanto eu posso contar) que resista uma linguagem acadêmica. Isso é meio Stirneriano(ou outsider atualizando em linguagem modernosa). E quem não é que atire a primeira pedra.

Me sinto meio cristão. Lembro-me da parábola de Jesus: quem nunca pecou que atire a primeira pedra. Um cara muito cristão era um tal de Nietzsche. Era tão cristão, que atirou pedras no cristianismo até sua morte. Ele nunca pecou. Que pena, não sabe o que perdeu.

Filósofos realmente são pessoas muito estranhas. Assista um seminário de filosofia às 08h da manhã e descobrirá porquê você ri das piadas contidas em Simpsons ou em South Park. As mônadas na conferência de Paris. Essa foi boa, melhor do que o bambu(se não conhece a história pare de ler o texto, você definitivamente não é um libertário PÚS-moderno).

Mas eu não estou aqui para falar de filosofia, nem poderia. Vim falar de técnicas corporais, e mentais para resolver o problema do cotidiano dentro da modernidade, esta nova e graciosa filha que o anarquismo resolveu namorar sob as asas do tio liberalismo. São técnicas que acabam com problemas típicos que o movimento anarquista enfrentou: organização, luta de classes, pedagogia libertária, bla bla bla, que papo chato...

Cult-way-of-life!! Go! Go!

Da história e origem dos manuais como estes

Um cidadão moderno, definitivamente não tem tempo para ler este tipo de coisa. Nada que demore mais do que dez segundos(o tempo de leitura de um panfleto onde lê-se vende-se ouro) ou uma viagem do metrô merece a atenção do libertário PÚSmoderno. Livros são caretas.

Dos objetivos do manual do cidadão PÚS-moderno

O objetivo é algo típico de uma sociedade teleológica como a nossa, finalista, objetivista e outros istas que podemos encontrar em nosso dicionário de ciências sociais para leigos, como tal, deve ser deixado de lado, junto com os profissionais de filologia e as tiradas batidas de Nietzsche em mesas de bar(estas são proibidas pelo manual do libertário PÚSmoderno).

Das edições passadas do Manual do libertário PÚSmoderno

Edições passadas não existem se não estiverem acompanhadas de sebos.

Do perfil do libertário PÚSmoderno

Sociedades de consumo avançado, produzem perfis diferentes. Não. Nós não vamos entrar numa discussão sobre marxismo agora. Isso definitivamente não está em pauta no momento. Seja PÚSmoderno. É mais fácil. Terá menos inimigos na academia(e terá muitos amigos caretas tenha certeza disto). O ponto positivo é que você JAMAIS receberá um panfleto de plebiscitos de campanhas insosas, no caso dos trotskystas, isso é muito, muito bom. Economizará papel. Há também o problema conceitual em cagar Foucault a cada cinquenta segundos nos corredores das universidades, esteja preparado para andar com um papel higiênico nos bolsos(não, você não pode falar em questões de ordem neste momento).

Da alimentação do libertário PÚSmoderno

Há dois tipos de alimentação que o guerrilheiro pós-moderno está submetido: a que faz mal e a que é você paga mais caro para que faça mal. Pastéis Heideggerianos, coxinhas Gramscinianas e quibes correlatos, devem ser evitados. Refrescos de caju, devem vir acompanhados de comentários sobre o último filme do Almodóvar.

Da linguagem utilizado pelo libertário PÚSmoderno

Evite jargões técnicos em público. Use-os em excesso no privado. Seja dualista nas mesas de bar, é como Kung Fu, Duro com os suaves e suave com os duros, traduzindo a nossa linguagem teórico e acadêmico com os populescos e populesco e prático com os acadêmicos. Use cerveja ou aforismas do Nietzsche se for preciso. Caso tenha crises de auto-consciência, utilize intensivamente jargões populares(esconderão o fato de você morar em áreas nobres da região), cante músicas populares em elevado tom de voz(isso esmaga totalmente os dissidentes; use funk se quiser ser duro, mpb se suave ou forró se preferir a indiferença), toque zabumba numa manifestação popular de turistas no centro da cidade ou frequente algum terreiro de umbanda branca.

Dos lugares que o libertário PÚSmoderno deve frequentar

Há muitos lugares cults onde você pode estar. Na verdade você podee deve estar em todos eles, essa prática de estar em tudo é algo imprescindível ao libertário PÚSmoderno; menos vendendo poesias em frente ao CCBB(gosta de poesia?). Isto é definitivamente proibido.

Das roupas e acessórios que o libertário PÚSmoderno deve usar

Óculos quadrados e com aros negros, devem vir definitivamente acompanhados de uma música do Echo and The Bunnymen e uma visita a uma ocupação de sem-teto(se o prazo da visita expirar, procure seus amigos anarco-ativistas para a renovação do visto).

Sapatos e tênis retrôs devem ser estimulados, isso dá um grande argumentode que você está preocupado com o avanço do capitalismo de estado chinês e talvez renda uma boa conversa sobre o boicote como arma de superação do capitalismo(ou de maneira efetiva de fazer sexo duas ou três vezes por mês).

Da leitura do libertário PÚSmoderno você-sabe-o-resto...

Leituras devem ser apenas citações, tudo acima disto deverá ser tratado estritamente, raivosamente como academicismo(expire a fumaça do seu cigarro de Bali em tom de indignação, soque a mesa e repita a-ca-de-mi-cis-mo entre os dentes, não se esqueça de agredir seu amigo de faculdade preferido com uma onomatopéia apropriada). Há livros especializados de aforismas. Sirva-se destes. O resto será definido pela subjetividade e pelas mesas de bar. É para isto que servem as revistas especializadas e outros libertários PÚSmoderno bêbados , lhe evitam o dispendioso esforço de perder cinquenta minutos lendo algum livro chato e tedioso.

Ignore esta regra dentro das salas de aulas do seu curso de relações internacionais ou sociologia.

Leia tudo que seu professor mandar.

Do capitalismo e das análises políticas

Serão sempre uma questão de estilo. Portanto, adapte-se à moda!

Da utilidade deste manual

Se o leitor riu de algumas piadas apresentadas e não se assumiu como libertário PÚSmoderno(...), definitivamente descobrimos uma maneira científica(tesconjuru pé-de-pato mangalô 3 vezes! E quem aqui falou de ciência? Nego até a morte!) de encontrar o libertário PÚSmoderno-(...).

Do autor

O autor se exime de qualquer responsabilidade sobre o conteúdo apresentado. Quaisquer semelhanças podem ser encontradas no cine Odeon, em Santa Teresa, ou no CCBB ou em espaços libertários em dias de chuva.

Das futuras edições e/ou atualizações

Virão. Em dias ímpares e ao som do novo cd do Radiohead. Afinal, a contradição faz parte da vida.

(*)
Amor Hace de La Vida
Um morrir amargo y lento
Más que horórosa la vida
de quién no vive muriendo
(Manuel González Prada - Grafitos)

14 comentários:

Anônimo disse...

Por definição, a melhor parte do texto_

"Sem dicotomias não existiriam filmes japoneses, times de futebol e toda a civilização ocidental."

Mr. Durden Poulain disse...

Pergunta que não quer calar: alguém além dos cinco patetas que escrevem aqui(e eu desconfio que nem estes o fazem) lê este blog???

Fernando Beserra disse...

Provavelmente não, huauha

mas por que os filmes japoneses não existiriam? =P

pior se não existissem os filmes portugueses... pq ai não teríamos o clássico: "O Bacalhau"... é um filme estilo "Tubarão", só que no caso é um bacalhau gigante assassinto que assombra os mares portugueses... clássico

Anônimo disse...

Você ainda tem dúvida? rs

Creio que Durden se referia à dicotomia clássica do monstro VS megazord !

Putz, este bacalhau tu ficarás nos devendo ! Deve ser intragável. hauhuha

Fernando Beserra disse...

mas ai não é filme japones, é seriado..

Anônimo disse...

Algumas negligências do texto:

Não citar o pedófilo do Hakim Bey e seus "conceitos"(TAZ, Caos, & ) em nenhum momento;
Não indicou nenhum livro da coleção badeeerna;
Não fez referencial algum de que tudo não passa de apenas um 'discurso';

Há também uma enorme falta de utilizações dos jargões-comuns dessa estirpe, como máquinas desejantes, máquinas nômades, feitiçaria (sim, o capitalismo é apenas um feitiço), rizoma, (re)(des)territorialização, simulacro...

Os autores do manual carecem de empirismo. Quem sabe fique para uma versão 2.0

Mr. Durden Poulain disse...

Só respondendo ao anônimo... realmente a omissão a baderna foi impecável...

mas não foi por falta de conhecimento empírico, tenha certeza disto...

na versão 2.0 vem algo sobre isso e mucho más...

isso-isso é tudo pessoal!

Fernando Beserra disse...

bla bla reacionário...

os conceitos da esquizoanálise, do anarquismo ontológico são muito mais do que discursos, mas enfim, cada macaco no seu galho, com um com suas fantasias... ai a gente pode falar que uma coisa é uma "prática pura" dessas infantilicides pós-modernas e outra é o "real revolucionarismo"

bla bla bla..

Mr. Durden Poulain disse...

Se são muito mais do que discursos, que saiam da mera individualidade e que isto seja divulgado entre as pessoas de carne e osso.

Não teria nada contra o tal anarquismo ontológico, se este trouxesse o seu valioso e intocado conhecimento para compartilhá-los com nós, meros revolucionários quadrados, intocados em nossas torres ideológicas intocáveis, cinzas, burocráticos, de dentro do movimento social. Ao que parece ao rejeitar aspectos básicos, como apoio mútuo, solidariedade, etc, o anarquismo ontológico esteriliza sua própria idéia. Pois deixa editora$ capitalistas fazerem o papel que os mesmos poderiam estar fazendo, divulgar algo que acham essencial para a transformação / libertação humana(por que é isso que me interessa fazer em maior ou menor grau).

Deixo a pergunta. Por que o anarquismo ontológico se difundiu menos como corrente real do que com capacidade de editoração deste tipo de material?

Por que a editora baderna faz(e ganha dinheiro) o que os anarquistas ontológicos se recusam a fazer?

Não há um real revolucionarismo "puro" em oposição ao anarquismo ontológico. Anarquismo puro, prática pura, isso tudo é totalmente uniformizante, totalizante, devemos sempre recusar isto...

Mas não podemos agora nem esboçar críticas que somos acusados de reacionários?

Esqueci-me que tecer críticas ao anarquismo ontológico é na verdade ofender os indivíduos que tem ligações sentimentais com este e o individuo(me esqueci novamente) está acima de tudo e de tod@s(Stirner se regorzija!)!!

O anarquismo social sempre lutou contra este tipo de uniformidade. Já que tu dicotomizaste(fui obrigado a polarizar ainda mais a discussão... rs) NÓS anarquistas sociais(olha a redundância que somos obrigados a criar por causa da negação de valores básicos do anarquismo pelos anarquistas ontológicos... somos um produto histórico-etimológico direto dos anarquistas ontológicos) estamos abertos ao debate.

De nenhuma forma ao criticarmos CONSTRUTIVAMENTE o anarquismo ontológico estamos a iniciar uma SANTA CRUZADA contra os defensores do anarquismo "torto"... Estamos apenas tecendo críticas necessárias a um movimento(se é que podemos chamá-lo de movimento ou se os mesmos se pretendem ser um...)/ fenômeno bem recente...

Como bem eu disse, o anarquismo é um fenômeno aberto, amplo, multifacetado. O que me incomoda no anarquismo ontológico é a prática sectarista dos seus chamados defensores(a maioria pelo menos) e seu escapismo característico(como os squats de convivência, as zonas autônomas temporárias constituídas exclusivamente por grupos determinados, os happenings universitários, etc)

A. Guerra disse...

então... o anarquismo clássico tem alguns "bastiões" contra os quais não se deve atentar: a "classe trabalhadora", a PRÁTICA, o movimento social etc. Parece que a única via possível é aquela que passa pela Revolução (com R maiúsculo), entendida muito mais como ruptura do dia pra noite do que como processo e pela classe trabalhadora ou povo ou o nome que se queira dar, desde que entendido sempre como um ente externo e alheio aos "militantes". Dialogar com os movimentos sociais é importante etc, mas continuo achando que quebrar o monolitismo do anarquismo clássico (e pq não, da esquerda em geral) é uma boa. Abalar sua fé, seu otimismo, dar petelecos no seu discurso-padrão...

Questionar os "ritos de esquerda" (Bob Black) é uma necessidade se quisermos salvar as intenções originais dos movimentos de oposição ao status quo. Não preciso dizer o quanto a esquerda (inclusive o anarquismo) se petrificou, virou doutrinarismo da pior espécie etc.

O problema é quando se apela a um discurso estético, esteticizante, para fugir do lugar-comum. O anarquismo ontológico tem muitos pontos criticáveis também, e mais ainda os seus "adeptos", que se limitam a usá-lo como uma espécie de adorno cult. Bob Black é um autor interessante, por exemplo (ele se classifica "pós-anarquista" ou "pós-esquerdista"). Tenho muita afinidade com o que ele escreve.

Enfim, há muito preconceito também. Sobre Stirner, tenho a impressão que ele era muito lúcido quanto ao movimento operário, o socialismo etc, que só faziam adotar um humanismo absoluto e pregar a gregarização dos indivíduos. Marx também era anti-socialista, se por socialismo entendermos as tendências coletivistas-distributivistas típicas do movimento operário (Ver Crítica do Programa de Gotha). Mas, vá lá, acho que a minha opinião sobre isso já foi expressa na discussão anterior.

Mr. Durden Poulain disse...

Alexandre resolveu exercitar seu iconoclastismo, talvez por não se rotular em nenhuma corrente socialista, projeta o mesmo para todo o movimento coletivo: acha que anarquista, marxista, são apenas rótulos, danosos, não podemos agora segundo Guerra nos rotularmos de maneira alguma. O que para mim é um erro. Rótulos tornam-se rótulos se não há um pensamento crítico constante, e um não dogmatismo prático. Rótulos só se tornam rótulos se interiorizamos discursos prontos. Coisas que acredito eu, eu e meus companheiros de blog não o fazem.

Como diria Nietzsche, convicções são prisões.

Seria esta convicção de Nietzsche de que convicções são prisões uma prisão? Resolvi brincar com este paradigma filosófico para iniciarmos nossa discussão.

"Revolução (com R maiúsculo), entendida muito mais como ruptura do dia pra noite do que como processo e pela classe trabalhadora ou povo ou o nome que se queira dar"

Bem, não vou falar da totalidade do movimento anarquista, mas sim das pessoas com que convivo e milito.

Não lutaremos PELO povo, mas sim COM o povo(engraçado, um companheiro meu citou esta frase na semana passada...), há uma diferença substancial. Esta definição de revolução como ente externo está muito mais próxima das concepções marxistas tradicionais(coisa que eu rejeito totalmente).

Não entendo a ruptura revolucionária como um processo do dia para a noite. Aliás, você já deve saber disso, mas continua no entanto dando o tiro certo no lugar errado. Tal crítica deveria se dirigir muito mais aos marxistas-leninistas, maoístas, trotskystas e anarco-sindicalistas tradicionais. Coisa que seria mais produtiva. Mais parece que a catarse do sr. Guerra está direcionada para o canal errado(no caso seus companheiros libertários de blog).

"Dialogar com os movimentos sociais é importante etc,"

Não... Não é importante. Dialogar com os movimentos sociais é justamente aceitar este ENTE externo que o sr. justamente critica. Não dialogamos com o movimento social, SOMOS o movimento social(é preciso expurgar um pouco da classe média dentro de nós para compreendermos isto)!

A doxa(prática política grega) é um exercício cotidiano! É preciso agir. Talvez não pelas formas tradicionais. Mas criar práticas novas é também compartilhá-las(e para isso é que serve a multiplicidade do movimento social).

Quanto ao Bob Black este me influencia bastante. Tanto é se você perceber eu voluntáriamente plageio sua estética do discurso.

Mas ele precisa historicizar um pouco o anarquismo, coisa que não tem talvez disciplina teórica ou saco político pra realizar.

Concordo com todo o resto. Romper com o monolitismo, re-inventar as táticas do anarquismo(o resto eu já expus anteriormente). Quanto as semelhanças com o Stirner, gostaria que o sr. escrevesse um texto. Seria bom para minha ignorância e para movimentar este blog polêmico... :)

Anônimo disse...

Quanto aos rótulos, acho que você tem razão. Eu levo a sério uma coisa que você me disse há muito tempo, numa de nossas primeiras reuniões - que como anarquistas, devíamos pensar por nossa própria conta, desprezando a pretensa autoridade daqueles que dizem pensar por nós. Isso significa atingir autonomia no pensamento, ser crítico quanto às idéias prontas que nos são empurradas. O ruim é quando deixamos nos limitar pelo rótulo que assumimos, e eu sei muito bem que, em qualquer meio que seja, existe certa "pressão" contra isso, contra a divergência. É o que se costuma chamar comumente de "policiamento ideológico". Isso revela a não-disposição do grupo (seja qual for) para a discussão de certos princípios, que acabam por isso mesmo se degenerando em dogma ou tabu. Como minimizar isto? Como inibir a inibição? Não sei.

De qualquer forma, o rótulo nunca é, "objetivamente", um obstáculo para o sujeito. O indivíduo que está no mundo não pode, por maior que seja a sua convicção, deixar de vacilar e de se confrontar com outras experiências (ou de confrontar-se com os múltiplos aspectos de sua própria experiência). Viver significa arriscar-se, também no campo do pensamento.

Mas não sou completamente avesso à uma posição política definida. Sou comunista, embora mais do que isso. Não sou adepto do relativismo: dúvida e certeza absolutas são dois lados da mesma moeda.

Passemos ao prox. ponto.

Anônimo disse...

Você é quem diz que o anarquismo deve estar dentro dos movimentos sociais, adotar um viés social etc. Nós não SOMOS o movimento social. Seríamos o movimento social se, partindo de nossa realidade particular, de nossos problemas específicos, nos articulássemos para resolvê-los. Mas não é o caso. O movimento dos sem-teto parte uma outra realidade (ou sub-realidade), de um outro contexto, de uma outra DOR social que não é exatamente a nossa. Aí, sim, eu considero legítimo a distinção. A verdade é que, como disse Marx, as "armas da crítica" nunca poderão prescindir da "crítica das armas". O que eu questiono é se existe um sujeito revolucionário fora de nós mesmos ("o povo"), se não cabe a nós nos incluirmos no conceito. Os zapatistas sugerem isso quando dizem o seguinte: "Somos gente comum, es decir, rebeldes".

Todo o resto, eu concordo. Sim, talvez eu esteja exagerando na crítica hehe... mas assim são as coisas, às vezes o debate se exacerba. É que eu não aguentei a abordagem severa que você deu à questão do anarquismo ontológico. E sobre o Stirner... bom, eu também gostaria de escrever um texto, mas eu ainda não tenho muita informação sobre isso, é um assunto que eu tenho interesse.

Timóteo Timpin Pinto disse...

Caralho! Estava tentando parar de rir pra poder comentar, mas começei a ler s comentários de vcs e vi que a parada ficou séria. Depois eu comentoos comentários de vcs. Quanto ao texto, minhas risadas falam por mim, HAHAHA!!