terça-feira, 30 de outubro de 2007

Epistemologia, Poder e Paranóia



O titulo pode assustar, especialmente porque os temas pareçam ter uma relação quase nula, no entanto, com um leve esforço podemos ver que essa ligação não é tão pequena assim. A epistemologia[1] é, numa explicação primária, a teoria do conhecimento, o estudo das bases desse conhecimento, ou ainda, a teoria que “responde” a pergunta: “Como é possível conhecer?”. Numa observação superficial, poder-se-ia supor que se trata de um estudo objetivo, de algo que fala de uma neutralidade, pois nossa sensibilidade já foi “adestrada” ou adestrou-se, por necessidades várias, a pensar a forma científica, e também o capitalismo, como naturais.

Um pequeno estudo histórico nos mostra que as coisas não são bem assim, nem é interessante que as vejamos dessa forma. A epistemologia precisa, primeiramente, analisar-se a si mesma: quais são as perguntas, ou as imagens, que permitem a formulação de um saber? Uma pergunta vital é: “Quais as intenções de determinadas formulações filosóficas que permitem a construção de uma ciência?”. Apenas uma inicial leitura histórica nos mostra que diferentes épocas inventaram diferentes paradigmas[2] ou Cosmovisões (Weltanschauunge), dentre essas é significativo apontar a diferença radical entre as posturas da Idade Média, do Renascentismo, do Modernismo e ainda da Contemporaneidade, embora dentro dessas épocas tenha havido diversas oposições, sínteses, continuidades e rupturas.

A maior parte do tempo as construções epistemológicas tem se baseado em padrões rígidos de Verdade, seja o Realismo, que pressupõe a possibilidade de alcançar o Real (ex: a visão platônica e o realismo científico) ou mesmo o Idealismo. A visão da Razão (Ratio) como argumento inviolável, que ainda hoje escutamos da boca de “cientistas”, seja nas ciências médicas ou psicológicas, foi elaborada com o intuito de criar uma instrumentalidade que desse conta da demanda capitalista, isto é, associou-se numa ligação perfeita com o modelo industrial. A conjunção Descartes, com sua lógica matemática, e o naturalismo de Francis Bacon permitiu essa construção até chegarmos a uma maneira de pensar totalmente materialista, dessa forma acreditando banir toda “fantasia” do mundo medieval e “Iluminando” o mundo das heresias religiosas, indo além, um dos pilares dessa Weltanschauung é a busca de controle do mundo natural, sensível (perceptível), digamos assim, um projeto Gengskaniano de dominação.

Conquanto o Iluminismo possa ter trago “ganhos” observáveis em vários campos tecnológicos, dificilmente podemos falar que ele trouxe as pessoas uma vida mais prazerosa. A informação positivista é unilateral, pretendeu-se verdadeira mesmo depois de suas certezas terem sido abaladas: ela apoiou-se de maneira nítida no Poder instituído defendendo durante muito tempo os bastões da sociedade capitalista: o trabalho, a família, a adaptação do sujeito aos padrões esperados. Para isso contou com uma intelectualidade proposta a apagar as diferenças: psicologia, serviço social, pedagogia, etc. Vimos ao longo do tempo, p. ex., os tratamentos agressivos e o cerceamento que foram feitos com os ditos loucos ou a-sociais, vimos ainda recentemente assistentes sociais agindo contra a vontade de seus clientes sob o manto da objetividade e do bem-estar do próprio “cliente”. Como se pretenderia ajudar um morador de rua que desejasse de fato morar na rua? Na Suíça, na década de 70, uma mulher foi obrigada por assistentes sociais a sair de casa, pois segundo conta-se, sua mãe a estaria “mimando” e, logo, ela não teria independência para trabalhar, se casar, enfim, fazer os afazeres ditos saudáveis. Foi para um outro lar, o que não surtiu efeito, continuava “vagabunda”, então os assistentes sociais ampliaram por 2 anos sua tutela, para “evitar que ela se prostituísse”[3].

Aparentemente temos que ser muito cautelosos quando nos propomos a ajudar os outros, pois o desejo de ajuda constela nos inconsciente uma sombra equivalente, seja com desejos de destruição, seja com aspectos egoístas: ser bem visto nesse meio, poder, além de todos os aspectos cristãos que já bem conhecemos. O bom samaritano que não observa sua própria sombra se torna o pior do vilões, vide a Inquisição.

Temos outra alternativa: abandonar as pretensões de encontrar o Real[4], as tentativas de encontrá-lo apenas criaram uma enorme sombra sobre tudo que não se adequava ao nosso próprio olhar, é importante lembrar que nossas próprias perguntas influenciam nossas respostas. Muita coisa ficou a margem, p. ex., no racionalismo cartesiano, que considera impossível qualquer contradição ou paradoxo. Segundo o existencialismo é justamente na medida em que nos fechamos ao mundo que nos tornamos doentes, pois ficamos impedidos de ver o outro, a dimensão de alteridade não só em relação as pessoas e seus modos de ver o mundo, mas também em relação a qualquer fenômeno (phainomenon).


Se o fechamento em uma verdade é como uma doença, então nenhuma doença poderia ser tão paradigmática como a Paranóia: ‘Para’ + ‘Noia’: pensamento paralelo, pensamento desligado, defeituoso, derouté, entgleist, fora dos trilhos. O atributo primordial da paranóia é a presença de delírios e a impermeabilidade dos mesmos, i.e, eles são tomados como verdades irrefutáveis. Se fantasio que sou um rei esta fantasia se torna real, sou de fato um Rei, não posso observar a fantasia como metáfora: “É como se eu fosse um Rei” ou ainda: “Talvez eu esteja sendo tão presunçoso como um rei, preciso ‘baixar a bola’”. A paranóia é a ausência do Como Se. Muita vezes procura-se os inimigos, os responsáveis pelo Mal, no mais das vezes se tratam de projeções, transferências intensamente carregadas, a um ponto que as vezes parece extrapolar toda vida do sujeito.

Uma possível visão que saia desse referencial é o pensamento junguiano do “Esse In Anima”, de acordo com ele nós não temos acesso ao Real, mas apenas as imagens; sabemos tão pouco da psique quanto da matéria. Logo, o importante não é procurar um real metafísico, além humano, mas saber o que é pragmático. Aqui o que importa é especialmente a intenção de um saber, sua finalidade, digo, o saber científico clássico pode ser bom para construir fabricas, carros, casas, etc., mas ele falha na função de entender o ser humano, ele falha ao pensar em uma sociedade mais prazerosa, ele falha e esbarra em sua própria sombra o tempo todo. É preciso, como costumo falar, que pensemos nossas visões como fantasias, e saibamos que o outro é sempre inesgotável, quer dizer, nenhuma teoria pode dar conta da totalidade do mundo, nem do ser humano. Por mais que procuremos, e isso tem relevância, um saber complexo, completo, é fundamental que ele não esgote a pessoa, pois é justamente onde se encontra o mistério que preservamos nossa singularidade.

A singularidade deve se expandir, se expandir, p. ex., a modos de ação política complementares, a ampliação das diferenças (e uma maior aceitação das mesmas). Ao fugir da massificação, não em um mundo underground fechado, porém em nossa excêntricidade, criamos novos modos de relação. Já dizia James Joyce: "O Estado é concêntrico, o indivíduo é excêntrico". Muitas vezes influenciamos mais os outros através de nossos próprios modos de conduta do que exatamente com falatório.

[1] - Em seu sentido etimológico epistemologia vem de: “episteme” conhecimento superior + “logia” discurso, estudo. Inicialmente Platão considerava que o conhecimento poderia ser divido entre: “Episteme” como conhecimento superior e “Doxa” ou opinião, que seria o saber senso-comum e de pouca valia.
[2] - Embora saibamos da discussão sobre o termo paradigma, aqui ele é empregado apenas como modelo.
[3] - Informações em: O Abuso do Poder de Adolf Gruggenbuhl-Craig. Lembremos ainda que esse quadro se refere a uma data época, embora recente, e não gostaríamos de generalizá-las de todo para a época atual.
[4] - Quando falo em Real, falo de uma verdade inabalável, seja ela manifestada nas ciências supostas “naturais” (?), nas ciências humanas (?), ou ainda presunção de ter encontrar uma sociedade ideal para todos os sujeitos.

10 comentários:

Mr. Durden Poulain disse...

Eu ainda não li. Mas devo comentar que é por conta destes títulos que metade dos leitores desistem de ler nosso blog.

Anônimo disse...

- Discordo. Não acho que o Iluminismo seja parte de um "projeto Gengskaniano de dominação". O domínio da natureza é ruim?... quer dizer, um conhecimento prático que nos permita manipular as condições da natureza é ruim? Não creio. Acho que é questão de independência ou morte. Essa diferenciação progressiva ou distanciamento é o que nos torna mais afeitos à liberdade, embora é preciso reconhecer que o capitalismo superdimensionou esta alienação, elevando-a ao ponto de coisificar a natureza, de desprezá-la, tendo-a como reles combustível da máquina de valorização, i.e., "matéria prima". As soc. indígenas são exemplos de sociedades que conseguem realizar o metabolismo com a natureza de uma forma muito mais harmônica e equilibrada, por exemplo. Porém, estas sociedades ficam muito mais à mercê das condições naturais do ambiente que as circunda. Quando utilizamos os processos naturais ao nosso favor, ou melhor, quando contrariamos a ordem natural das coisas, vamos criando um fundo de espaço cada vez mais amplo para a ação humana, i.e, para a criatividade humana. (Isso é algo que o desenvolvimento da técnica também nos proporciona, na medida em que libera cada vez mais tempo de ócio.)

- Entre o Real e o Sujeito do Conhecimento, existe a mediação da Imagem. Estudar esta relação tríplica é papel da Epistemologia, certo? O que não significa que o "Real" seja uma categoria não-válida. Não consigo pensar num Real totalmente filtrado por fantasias subjetivas. Isso me soa como uma superestimação da subjetividade, um quase totalitarismo do sujeito. Onde se separa, então, ficção e realidade? Vivemos numa eterna matrix? Qual a validade da experiência??

Talvez o "Real" seja apenas um pano de fundo da nossa experiência, ao qual adicionamos as cores à gosto... Talvez não exista esta separação entre subjetividade e objetividade, ou entre sujeito e objeto. Mas... e daí? Por isso vamos dizer que "a realidade não existe"? Não seria demasiado arbitrário? Não existe, independente disso, um nexo comum da experiência sensível? Não existe um mundo sensível que, embora mediado pela nossa subjetividade, não se encerra aí... que se estende para além da nossa vontade? E quando falamos de política, ou em termos sociais, não estamos nos referindo mais especificamente a um campo de arbitrariedades?

Anônimo disse...

Aliás, esse papo quântico pós-moderno é muito bonito, interessante etc, mas quem me garante que isso não passa de moda intelectual? Não quer também este discurso estabelecer verdades, mesmo que seja a verdade de que a verdade não existe? O clássico dilema. Este ar de novidade - coisa típica do mercado -, de filosofia redentora é bem característico dessas filosofias BBB, que depois dos seus 15min de fama podem então descansar em paz no anonimato, quem sabe fazendo uma pontinha na novela das 8...

Fernando Beserra disse...

Bem, isso é uma visão, ao estabelecer uma fenomenologia do iluminismo veremos que ele procura sim "dominar" (compreender no sentido de devorar) o ser humano e a natureza... nem tanto a alma humana, mas antes a matéria, ainda sob o referencial dualista de Descartes (Res extensa x Res cogitan)... dominar o corpo, seus mecanismos, dominar a natureza, moldar a matéria para utilizá-la de diversas formas, desde criação de comodidades até, e especialmente, para aumento de poder..

Isso é ruim? Eu não acho de todo... como falei no texto, isso serve para várias coisas e falha em outras.. re-leia..

O ser humano não se distancia da natureza. Ele sim, a partir da natureza, de sua natureza, foge a repetição.. isso é ótimo, por isso a criatividade é condição de saúde.

A técnica massifica, embora seja útil... isso depende do campo científico e do seu local de utilização.. mas ela não tem tanto haver com criatividade.. nem mesmo o ócio.. vc pode ser criativo trabalhando, através, p.ex., da fuga da repetição.

Não sei se a imagem medeia alguma coisa, rs... nem sei o que há por trás da imagem.. falar sobre o que há por trás da imagem é o papel da metafísica, i.e, do que é da ordem do transcendente..

Vc pode continuar usando o real, não importa mto, mas é apenas uma qualidade da imagem, um aspecto correspondente em termos de relação (correspondecialismo; ex: a imagem do sol enquanto circunferência 'amarela', brilhante é algo basicamente de um tunel-realidade do senso comum {utilizando a expressão do Robert Anton Wilson}).. o que chamam por ai de "Fora".

Subjetividade? Como falar de subjetividade quando "existem" fantasias coletivas? Ninguem disse que a fantasia é algo eminentemente pessoal, de mônadas, enteléquias.. Falamos não só de uma consciência coletiva, mas tb de uma inconsciência coletiva... Além do mais, isso vai a questão complexa da relação "mente-matéria", ou como queira, da imagem da mente e da matéria.. são inicialmente diferentes e a maioria das pessoas, salvo exceções, sente elas de maneira diferenciada.. Isso tb não significa que elas não sejam, talvez, paralelas, interagindo, se modificando.. exps: psicosomática, sincronidade, a constelação psíquica de uma doença terminal... etc..

O que não é experiência? Tem mta validade.. rs

Mta coisa se estende para além da nossa vontade, existe algo da própria percepção humana ( função endo e exopsíquica), a realidade "consensual" da qual falei...

Todo campo parece, até certo ponto, um campo de arbitrariedades... é importante que as defendamos, lutemos por elas..

Quem falou em papo quântico pós-moderno? Eu só estabeleci uma retórica aqui, a partir de pensadores antigos, aliás...

Fernando Beserra disse...

Ah sim, pequeno texto sobre a questão mente-corpo... http://www.symbolon.com.br/artigos/aquestao.htm

Fábio disse...

O problema é que os intelectuais entregam a realidade a formalismos os mais diversos: ou as coisas são autônomas, independentes umas das outras etc.; ou são dissolvidas a partir de um princípio universal, não existindo mais diferenças qualitativas (tudo se transforma num continuum); ou são como que fundadas a cada paradigma, como se cada tempo histórico ou cultura diversa fosse um conjunto de enunciados organizacionais que determinam os indivíduos a ela, historicamente ou geograficamente, sujeitos.

Afirmar que não existe separação qualitativa entre sujeito e objeto, indivíduo e sociedade, ou afirmar que ambos os entes são absolutamente autônomos, ou afirmar que a realidade se dá através de paradigmas organizacionais que se sucedem uns aos outros de forma linear etc., tudo isso é besteira - necessário para o conhecimento, mais besteira.

Esse relativismo de hoje é fruto, mais uma vez, da física. Interessante como todos afirmar que temos que romper com esse cientificismo oriundo das ciências exatas, certo mecanicismo, para tão logo que alguns físicos afirmer que tudo é relativo, todos começarem a cacarejar a relatividade.

Holismo, dualismo, historicismo, positivismo etc. são idéias para serem aceitas, aperfeiloadas, vivenciadas em sistemas religiosos, por exemplo, não para determinarem a nossa existência, como se descrevessem perfeitamente a estrutura do real.

Fábio disse...

Na verdade Einstein, por exemplo, não disse bem isso que custumamos lhe atribuir, pelo menos não da forma como entendemos.

Einstein fez ciência, buscava a objetividade, buscava descrever a estrutura do real assim como ele acreditava que ela fosse.

Ele acrediatava que as coisas eram relacionais independentemente do que os sujeitos achassem disso. Se eu, como sujeito cognoscente, entender que a verdade não seja bem assim como Einstein a descreveu, que ela tenha uma estrutura absoluta e imutável, isso, para Einstein, inimporta, pois a realidade será relacional independentemente do que eu, como sujeito cognoscente, ache disso.

Ou seja, ele, como qualquer cientista, buscava descrever a estrutura do real assim como ela é, independente do que uma sociedade inteira, um grupo ou um indivíduo qualquer achem disso.

Ou seja, era um absolutista (mas na ciência, como disse Feyerabend, "tudo é válido" - ou quase tudo).

Fernando Beserra disse...

Tudo bem, mas ainda não compreendi porque vocês cismaram com "Física Quântica" ou "Einstein"... na verdade eu nem sequer falo de nenhum dos dois no texto, aliás, dentre os 3 tópicos do texto (epistemologia, poder e paranóia) no caso da epistemologia meu argumento é totalmente distinto tanto do de Einstein como daqueles que procuram modelar a física quântica para tudo...

Meu argumento, no sentido epistemologico, passa muito mais perto de um ceticismo (enquanto a questão da metafísica, o argumento do Esse in Anima) e de um pragmatismo (W.James). A partir dai eu abandono a verdade dura, conhecimento puro, mas pergunto sempre "Qual a finalidade de um saber?".

Passando isso a uma teoria crítica, revolucionária, a pergunta persiste: "Qual nossa intenção? Dentro da nossa intenção, qual as maneiras mais funcionais de conduta?"...

Que os sistemas de conhecimento não sirvam para determinar nossa existência, é ótimo; que sirvam para ajudar em diversas construções (tecnologicas, revolucionárias, conservadoras, culturais...) é um "fato".

Fábio disse...

Subjetivismo, dualismo, física quântica, Einstein etc. Acho que exageramos.

A respeito do post, como o A. Guerra, eu também discordo a respeito de certa perspectiva que vê no iluminismo um papel essencialmente malético (no que concerne ao domínio humano da natureza), e acrescento: acho essa relação entre iluminismo e capitalismo uma relação um tanto que arbitrária.

Aliás, hoje temos a tendência de separar a história de duas cosmologias, duas epistemologias, que sempre foram muito próximas: o positivismo e o holismo (nas ciências sociais podemos falar de uma "matemática" e de uma "fisologia social").

Aqueles que hoje lutam por perspectivas mais sistêmicas, onde não existam separação entre indivíduo e sociedade, homem e natureza, enfim, quye lutam contra todos os dualismos, e ainda acham que com isso poderão "superar" (gradativamente ou rupturalmente) a lógica da ordem sócio-econômico vigente, no meu entender, estão flagrantemente errados: a economia de mercado e o estado sobreviverão muito bem - aliás, um pensamento sistêmico exige um "pensar e agir global", e esse é, acredito, a base epistêmica que justificará organizamos transnacionais, embriões de um provável estado mundial, com regras para todos, pois "já não existem mais fronteiras" epistêmicas, "tudo tem relação com tudo" etc.

Capitalismo e comunismo reais (e não os "verdadeiros" que "um dia hão de ser alcançados), mercado e estado respectivamente, só ganharão com esses "novos paradigmas".

Fernando Beserra disse...

Eu também discordo dessa perspectiva que vê no iluminismo um papel essencialmente maléfico.. bem, entre iluminismo e capitalismo não existe relação intrinseca, como se ambos não pudessem viver separados. Todavia, o iluminismo é um excelente modelo de suporte para as relações capitalista, além de mascarar, sob o manto da neutralidade, diversas relações de poder.

Positivismo e Holismo são opostos, pelo menos em determinado quesito: ai também entra uma questão, como observar aquilo que norteia nossa observação? Quer dizer, se observarmos a partir de uma visão analítica, podemos dizer que "Positivismo" e "Holismo" são opostos em determinados elementos, p.ex: "A lógica positivista, historicamente, quando se associou ao empirismo com Locke, Berkley, Hume, etc. pretendeu-se elementarista e associacionista, enquanto o holismo pretende compor uma unidade e observar o 'Todo' ao invés das partes isoladas, além disso não propõe a união de 'elementos' separados, mas diz que tudo está relacionado"... ok, podemos supor, apesar disso, algum tipo de semelhança também entre as tendências..

Ai poderíamos até utilizar o argumento de que ambos os modelos pretendem dar uma explicação última sobre o mundo, talvez o Positivismo tivesse um claro exemplo em Newton e o Holismo na Física Quântica..

O holismo tem sido bastante usado nos modelos ecológicos e de luta ambiental, nesse proposito, cumprem sua missão, especialmente algumas novas hipóteses. Sua critica, entretanto, é pertinente... de fato esses modelos podem dar base ao capitalismo "avançado"(?).. mas existem também pensadores q propõe um modelo próximo a um holismo que, apesar disso, consideram o sujeito dotado de uma transcendência em relação as próprias relações... isso é interessante, porque da margem a uma acausalidade...

É possível, por isso temos que pensar bem, =P... de qualquer modo o capitalismo se aproveita de muitos modelos políticos, epistemologicos, sociológicos, etc, que muitas vezes eram usados contra ele mesmo.