quinta-feira, 26 de julho de 2007
Tio Durden entra na polêmica: Bookchin e Bey a missão.
Parte I
Como o inútil do Guerra prefere desfrutar de férias pitorescas em recantos insólitos da Europa ao invés de produzir algo teóricamente aceitável, resta ao Frei Nando e ao tio Durden a tarefa de se digladiarem em torno das polêmicas deste recanto libertário de layout e formatação de texto duvidosos, diga-se de passagem. Dividi em partes. Só escrevi a primeira até para não "fechar" minha opinião. Quero emitir e receber, pra construir meus argumentos numa troca. Coisas fechadas demais e sem opções me dão calafrios.
Primeiramente eu gostaria de elucidar algumas questões. Desembaraçar alguns nós conceituais.
É preciso, antes mesmo de citar o Hakim Bey e o Bookchin localizá-los históricamente. Enxergar de onde falam, que tradições representam, que sedimentos teóricos estão assentados. Ambos são de carne e osso(apesar da mitológica multi-presença de Bey, quem escreve escreve de algum lugar), estão localizados no tempo e no espaço. Isso é importante, pois há um vício recorrente dentro da filosofia e da sociologia em se trabalhar conceitos descolados da realidade em que estes encerram. Há uma preocupação muito grande em esmerilhar e esmiuçar os conceitos sem localizar que há um tempo histórico definido que os abriga.
Uma breve biografia dos distintos srs: Murray Bookchin é um gigante do pensamento libertário contemporâneo, nasceu em 14 de janeiro de 1921 e faleceu em 30 de julho de 2006, fundador da ecologia social, foi um brilhante acadêmico, com contribuições importantes não só ao movimento anarquista, mas aos movimentos ecologistas e à esquerda em geral. Militou em diversas organizações políticas, tais como a Liga Libertária, filho de militantes da IWW, ligado a movimentos alternativos participando de lutas dos anos 60 pelos direitos civis e contra a guerra do Vietnã, participou do primeiro de maio em 68, em Paris bla bla bla bla, com todo o respeito que os bla bla blás encerram. Em suma o cara foi um picão, me desculpem as sexistas policiólogas de plantão ou os anarcômetros de linguagem presentes.
Vamos falar do Bey: Tio Bey, Hakim Bey, mais conhecido como Peter Lamborn Wilson é um escritor, ensaísta e poeta que se entitula como um "anarquista ontológico". Intoduziu alguns conceitos sobre as TAZ's(Zonas Autônomas Temporárias) a partir de seus estudos históricos sobre as utopias piratas no fim da década de 90 foi amplamente reconhecido no mundo todo, escreveu sobre Charles Fourier, Friedrich Nietzsche e foi afiliado a Academia de Filosofia Iraniana e saindo do país durante a Revolução Islâmica. Na década de 80 influenciado por René Guénon estudou a fundo as idéias do anarquismo e do situacionismo com sufismo e Neopaganismo, e escrevendo sobre suas idéias de sobre "anarquismo ontológico" e "imediatismo", desnecessário outro palavrão chulo para medir a capacidade intelectual de nosso amigo Bey.
Como o inútil do Guerra prefere desfrutar de férias pitorescas em recantos insólitos da Europa ao invés de produzir algo teóricamente aceitável, resta ao Frei Nando e ao tio Durden a tarefa de se digladiarem em torno das polêmicas deste recanto libertário de layout e formatação de texto duvidosos, diga-se de passagem. Dividi em partes. Só escrevi a primeira até para não "fechar" minha opinião. Quero emitir e receber, pra construir meus argumentos numa troca. Coisas fechadas demais e sem opções me dão calafrios.
Primeiramente eu gostaria de elucidar algumas questões. Desembaraçar alguns nós conceituais.
É preciso, antes mesmo de citar o Hakim Bey e o Bookchin localizá-los históricamente. Enxergar de onde falam, que tradições representam, que sedimentos teóricos estão assentados. Ambos são de carne e osso(apesar da mitológica multi-presença de Bey, quem escreve escreve de algum lugar), estão localizados no tempo e no espaço. Isso é importante, pois há um vício recorrente dentro da filosofia e da sociologia em se trabalhar conceitos descolados da realidade em que estes encerram. Há uma preocupação muito grande em esmerilhar e esmiuçar os conceitos sem localizar que há um tempo histórico definido que os abriga.
Uma breve biografia dos distintos srs: Murray Bookchin é um gigante do pensamento libertário contemporâneo, nasceu em 14 de janeiro de 1921 e faleceu em 30 de julho de 2006, fundador da ecologia social, foi um brilhante acadêmico, com contribuições importantes não só ao movimento anarquista, mas aos movimentos ecologistas e à esquerda em geral. Militou em diversas organizações políticas, tais como a Liga Libertária, filho de militantes da IWW, ligado a movimentos alternativos participando de lutas dos anos 60 pelos direitos civis e contra a guerra do Vietnã, participou do primeiro de maio em 68, em Paris bla bla bla bla, com todo o respeito que os bla bla blás encerram. Em suma o cara foi um picão, me desculpem as sexistas policiólogas de plantão ou os anarcômetros de linguagem presentes.
Vamos falar do Bey: Tio Bey, Hakim Bey, mais conhecido como Peter Lamborn Wilson é um escritor, ensaísta e poeta que se entitula como um "anarquista ontológico". Intoduziu alguns conceitos sobre as TAZ's(Zonas Autônomas Temporárias) a partir de seus estudos históricos sobre as utopias piratas no fim da década de 90 foi amplamente reconhecido no mundo todo, escreveu sobre Charles Fourier, Friedrich Nietzsche e foi afiliado a Academia de Filosofia Iraniana e saindo do país durante a Revolução Islâmica. Na década de 80 influenciado por René Guénon estudou a fundo as idéias do anarquismo e do situacionismo com sufismo e Neopaganismo, e escrevendo sobre suas idéias de sobre "anarquismo ontológico" e "imediatismo", desnecessário outro palavrão chulo para medir a capacidade intelectual de nosso amigo Bey.
Coloquei os dois perfis aqui, para tentar localizar os leitores. Bookchin apesar de também intelectual tem uma tradição de militância visívelmente mais concreta, com uma experiência em movimentos de massa que no caso de Bey é algo distante e esfumaçado. Atrevo-me a dizer que o máximo que Bey chegou de movimentos populares foi em algum livro de biblioteca. O que não muda sua consistente e inventiva capacidade de revolucionar idéias, comportamentos, mas dá a tônica para tentarmos entender toda o vociferal texto de Bookchin. Não vou cair(podem me segurar), na dicotomia militante x intelectual, idéia x ação, teoria x prática, até por que as idéias de Bey e a prática de Bookchin são lados de uma mesma moeda. Isto não invalida a discussão da obra de Bey, mas dá caldo para entendermos coisas mais concretas: como o marasmo e a falta de presença do anarquismo como algo de relevância nas lutas sociais.
Bey influencia uma geração inteira de ativistas e isso não é algo para se jogar fora, se faz isso, (e reutilizando uma expressão "cult" da academia) é por que tem a "sacação" do zeitgeist do tempo em que vive e o faz excelentemente bem(eu também comprei aquele livro da Baderna, eu confesso!). O que é de se admirar. Não vou perder mais um parágrafo elogiando o Bey nem o Bookchin, vamos partir para o concreto agora.
As críticas de Bookchin são parte de alguém que viveu a geração de 60 e de 68(uma geração tão inventiva e criativa como a nossa, talvez até mais e preocupada mais com revoluções individuais do que as coletivas diga-se de passagem), e sabe muito bem até onde vão idéias absolutamente geniais sem uma preocupação consistente em que estas caminhem conjuntamente com um movimento de massas organizado. Pode até ser que o cara tenha ficado mais rançoso e seu viés marxista(de onde surgira políticamente) tenha aflorado diante de tanta merda(sim! conviva com um grupo de neo-anarquistas durante 1 mês e saberá o que eu estou dizendo) anarco-pop.
Meu camarada Fernando R. afirma que Bookchin em seu "delírio positivista" não aceita a diferença dentro do anarquismo. Ao contrário do que afirma o companheiro, há em muitas de suas obras grandes respaldos para esta diferença existir; é justamente o municipalismo libertário, conceito multi-polar de organização político, cunhado por Bookchin que dá a diferença, a multiplicidade, toda a liberdade para enraizar-se.
É claro que há um ranço positivista em Bookchin(vamos dar um desconto, o cara morreu com 85 anos de idade, não chupou chupeta na contra cultura minha gente, sua tradição é mais antiga que isto), isso fica claro com o texto sobre Religião e Anarquismo, que pra mim é um dos mais infelizes que ele já escreveu, há também uma austeridade em seu pensamento, que não chega a ser apolínea como afirma meu querido companheiro de blog, mas afirmar que Bookchin é materialista histórico, calma lá! O cara bem ou mal, tirando seus surtos austeuros, "não acha que mudando os meios materiais de uma sociedade e os meios de produção muda-se o pensamento da sociedade. Bookchin rompeu com marxismo (e isso passa por romper com um de seus pilares centrais que é justamente o materialismo histórico citado feijão com arroz aí em cima).
Mas dando uma cutucada com a vara curta, sem as tais condições materiais, fica difícil imaginar a diferença existindo caros amigos, vide o capitalismo, que não dá condições para nenhuma diferença existir, uniformiza, massacra, conduz e unifica tudo sob a égide do lucro, da competitividade. E sabemos muito bem o que o capitalismo faz com os ideais de libertação individual: ele os assimila, os embala e transforma em mercadoria, em prateleiras de consumo que nada representam de ameça real aos pilares do sistema capitalista. Talvez seja esta a preocupação e a crítica central de Murray Bookchin.
Mas também não podemos cair nsse papo de condições materais primeiro e liberdade amanhã, isso é papo de marxista e nisso o tio Bey está certo, liberdade agora, novas formas de luta, mudança individual, libertação individual, que venham para agregar ao caleidoscópio anarquista(adorei a definição)!
(ufa! que trabalho dá romper as dicotomias e integrá-las) *
Mas é fato que o movimento anarquista carece de expressões coletivas de luta significativas, e me parece esta a crítica central de Bookchin. Uma crítica assentada sob uma perspectiva e análises históricas(não a-históricas abstraídas do contexto social).
Bookchin já viu grupos e indivíduos defendendo expressões semelhantes a de Bey em outros momentos da história desintegrarem-se como farinha no deserto. Localizaram a procedência da crítica?
A preocupação de Bookchin procede. Os jovens libertários-liberados de 68 são grande parte dos burocratas de hoje, que enxergam 68 como um grande "parque de diversões" que teve tempo e hora para acabar(autônomo e temporário), parte do processo traumático da juventude "liberada", que após romper os padrões de determinada época assimila e constrói novos dogmas e paradigmas de mercado e de moral e os põe a disposição dos setores com capacidade de consumo. Eu gostaria de deixar claro que acho o conceito de TAZ interessantíssimo, gosto dos livros do Hakim Bey, mas há uma tendência e nisto Bookchin está correto em se rejeitar aspectos primordiais do anarquismo: autogestão, organização, federalismo, consenso, por espasmos individuais proto-libertários. Como se a tal mudança não fosse um junção destes dois fatores: mudanças individuais e mudanças coletivas.
Como disse meu amigo em trecho anterior: "Que o anarquismo ontológico possa nos prover como meio de encontrar nossa singularidade, nossos momentos limites alterando-nos nas profundezas e não só na superfície..."
Mas NÓS QUEM CARA PÁLIDA? Já que estamos falando de singularidade e diversidade, vamos aos fatos... O anarquismo ontológico pode ser até algo muito bom em convencer meia dúzia de jovens classe-média, neoístas, caoístas, neo-anarquistas, intelectuais de esquerda e estudantes universitários... Mas à classe trabalhadora ele não passa de um jargão indecifrável e confuso, um idioma excêntrico e estranho que não atende seus anseios mais básicos(e ligados diretamente às suas realidades).
Muito além da dicotomia Bookchin x Bey, é fato que todas as idéias de Bookchin estão centradas na questão coletiva a partir de experiências concretas, e de que o anarquismo mais carece de representação e importância que me parecem atualmente, mais fundamentais a serem discutidas, já Bey concentra-se na questão individual, igualmente importante, mas que infelizmente não atende à realidades populares, e sim uma elite intelectual bem informada e com boa capacidade de consumo para obter seus livros infelizmente.
Os textos de Hakim Bey são uma reação honesta e necessária contra a esquerda burocrática, a geração de 68 que agora dirige confortávelmente seus carros importados e toma seus dry martinis nos finais de semana, aparelhada, aparelhista, dirigida, dirigista.
O texto de Bookchin é uma resposta aos que super-estimam a liberação individual como forma de derrotar o capitalismo e esquecem-se de que houve e há um anarquismo que não é conceitual nem teórico, mas histórico e ligado a derrotas das quais podemos extrair valiosas lições.
O erro de Bookchin é a já tão citada razão tecnificada(o tecnificado é meu adendo) já citada brilhantemente por nosso camarada Fernando, a de Bey é não historicizar o anarquismo(algo que Bob Black faz de maneira mais estúpida que ele diga-se de passagem), nem reivindicar tradições que seriam importantes ao seu pensamento. Eu entendo também que se ele historicizasse o anarquismo ele provávelmente não seria o Bey(ele é iconoclasta demais para prestar qualquer tipo de reverência) e nós não estaríamos aqui discutindo exaustivamente isto.
São ossos do ofício. E repetindo a frase de meu amigo em total concordância: "Ainda há vida por entre Bey e Bookchyn..."
* Sem dicotomias rígidas não existiriam novelas, times de futebol, o pstu e toda a sociedade ocidental-cristã.
obs: garotos JUSTIFIQUEM seus textos, não estou falando de argumentos, tal masturbação retórica lhes sobra, vide o zeitgeist, o apolíneo e o intermezzo do Fernando(êeepa), estou falando de formatação de parágrafo JUSTIFICADO, que fica mais fácil de ler. Definitivamente gente de humanas não entende nada de informática.
segunda-feira, 23 de julho de 2007
Da polemica
Gostaria de comentar brevemente o artigo do Murray Bookchyn "Uma crítica ao anarquismo como caos"(http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/05/381918.shtml) onde faz severas críticas a Hakim Bey e ao anarquismo ontológico. Ora, Booktchyn em um delírio positivista parece não ser capaz de enxergar um palmo além do seu nariz, será que o anarquismo estará condenado a não aceitar a diferença? É certo que grande parte do anarquismo do século XIX e XX foram contra a désmesure e o descomedimento, foram contra qualquer apelo "individualista", e conseqüentemente singular, considerado logo como pequeno burguês. Assim tambem o foram as varias correntes marxistas e socialistas em geral. Coloquemos a questão: Qual é a autonomia que o anarquismo busca? É a auto(nomia) apenas social?
Muitos autores talvez gozem ao falar em ordem, Razão, organização, para mim, sinceramente, isto é um olhar de pirata. O tapa-olho as vezes atrapalha, e então ficamos presos a nosso tipo psicológico particular e o generalizamos como se o mundo devesse ser nossa imagem e semelhança. Quem é o pequeno burguês e o Einzige é difícil dizer. Não vou acusar mais o Bookchyn de caracinza, porque ele, embora caracinza, ainda é um cara legal, mas o anarquismo não pode ficar preso nessa austeridade apolinea, isso é burrice, é mesmo falta de compreensão de nosso Zeitgeist (espírito da época). Com certeza para nosso amigo os surrealistas deviam ser outros desses pequenos burgueses; esta é a mente de quem não consegue imaginar, é uma mente tipicamente da direita, masculina (seja o masculino do homem ou da mulher) é a mente do duro "Ateismo muscular", algo bem fálico. É um pensamento típico de alguem que acha que se mudando os meios materiais de uma sociedade, se dominarmos os meios de produção, se tivermos um pensamento voltado ao social os problemas estarão resolvidos.
Esquecemos que foi a direita, a atividade masculina, já que a força está normalmente na mão direita, que oprimiu através da força a mulher. O próprio tabu dos canhotos é fato consumado, um dos epitetos do diabo é canhoto. Já a superioridade da esquerda normalmente esteve ligada a matrilinhagem, a lua, a noite e ao feminino, lembremos ainda que o feminino sempre esteve ligado ao obscuro, desconhecido, ao gato e especialmente a imaginação e a magia (a exemplo lembremos os xamãs que se vestiam de mulher para entrar em contato com os espíritos). Retomemos, em prol do exemplo, a diferença de tratamento na linguagem entre a esquerda e a direita. Em latim, direita é dextra que se aproxima de decet "o que é conveniente" já a esquerda é sinistra, de mau pressagio, funesto, sinistro e em grego direita é deksiá e significa "de bom augúrio, favorável" e esquerda é aristerá, quer dizer, excelente, ótima.
Essa questão é também a disputa entre o apolineo e o dionisíaco, Apolo e Dioniso aparecem no campo de batalha. Lembremos primeiramente que Apolo foi na mitologia grega o deus principal da manutenção da ordem e dos antigos costumes, seus principais ditados eram o medèn ágan (μεδεν αγαν) nada em demasia, o sophro-sýne, a moderação e o gnôthi s´auton (γνοθι σ´αυτον) conhece-ti a ti mesmo, dessa forma Apolo evitava os excessos que ameaçassem a ordem social. A Razão ao ser desenvolvida foi o baluarte do iluminismo e da revolução industrial, a construção de uma sociedade pragmática, trabalhadora que estivesse compromissada com a funcionalidade capitalista.
Ora, Booktchyn fala ironicamente que adoraria ver Bey e seus discípulos nos "piqueniques" da Libertarian League, mas minha Nossa Senhora! Quem não tem prazer e não faz piquiniques numa revolução é que constrói sua própria derrota! Que a sociedade vindoura possa saborear um bom vinho e mesmo produzir orgias, que a sociedade vindoura saiba saborear, como Orfeu, a musica e a poesia. Lembremos quem eram os inimigos de Dioniso na sociedade grega: os Eupátridas, isto é, os aristrocratas. Bey trouxe de volta o êxtase (ekstasis) e o entusiasmo (enthusiasmus) que foram as principais formas nos rituais dionisíacos de ultrapassar o métron (a medida) e tornar-se um deus; segundo Brandão "O ékstatis, todavia, era apenas a primeira parte da grande integração com o deus: o sair de si implicava num mergulho no Dioniso e deste no seu adorador pelo processo de ενθουσιασμοs (enthusiasmós), de ενθεοs (éntheos), isto é, 'animado de um transporte divino', de εν (én), 'dentro, no âmago' e θεοs (theós), 'deus', quer dizer, o entusiasmo é ter um deus dentro de si, identificar-se com ele, co-participando da divindade". E ainda era com as Bacantes que os adoradores de Dioniso através da mania (loucura sagrada) e das orgias que se concretizava a comunhão com o deus. Nenhum outro deus ligava-se ao homem de tal forma.
Esse dionisíaco é sempre uma metamorfose (a isso re-lembremos as festas da antestérias), talvez por isso este lado assuste ao anarquismo que muitas vezes se deseja um sistema ideal, o Éden na terra, que aliás, é um dos grandes mitos do anarquismo, exatamente por isso teme o pecado da mudança (comer a maça), de se abrir portas proibidas (a caixa de pandora). Devemos deixar de ser tão moralistas e aceitar mais as diferenças, essas são as flechas que eu gostaria de lançar, com minha máscara do feminino Eros. Abrir um vaso de aceitação e acolhimento, mesmo que, muitas vezes, um vaso com pontas.
Que o anarquismo ontológico possa nos prover como meio de encontrar nossa singularidade, nossos momentos limites alterando-nos nas profundezas e não só na superfície e então, em devir, tornamo-nos juntamente com o mundo, um outro lugar. É preciso ser um suicida, como Nietzsche, amo aqueles que vivem como se extinguindo. O anarquismo não é um ponto final, mas uma abertura de caminhos, se não o é, que construamos este anarquismo ramificado de encruzilhadas e bifurcações. Como Janus Bifronte sigo com a Razão e a Imaginação, uma na frente e outra nas costas e de meu coração sai a voz que grita desesperadamente pela Aurora, por um novo dia.
Ainda há vida por entre Bey e Bookchyn, no meio, intermezzo. Fnord.
domingo, 22 de julho de 2007
Lamentações Ocasionais
De como era tudo opressivo. Como lamentávamos. O governo, os impostos, o aumento da passagem, da saúde, da educação, mas nada fazíamos. Apertávamos alguns botões e voilá, esperávamos sentados com nossos corpos passivos e conformados pela TV, pelos telejornais, pela notícia fresquinha e enlatada do final de semana, alguma mudança ocorrer. Reclamávamos em filas de banco, em salas de consultório clínico-dentário, em coletivos apertados e estações de trem decadentes, abandonadas. Eram espasmos na maioria das vezes, funcionavam como catarses aleatórias que serviam bem ao propósito de extravasar raiva acumulada, equilibrar o corpo numa homeostase política covarde que inclinava-se sempre por soluções imediatas, fórmulas prontas, resoluções fast-foods como a sociedade de consumo nos ensinou: caveirão, ditadura militar, fuzilamento em praças públicas, presidente ex-operário, isto sim iria funcionar.
Pedíamos por favor em um tom de voz baixo e lamurioso. Clamávamos por alguém que pegasse em nossas rédeas, por que foi assim que o aparato educacional resolveu nos criar. Nossa autonomia era um esboço. Nossa reação um suspiro. Você só segue ordens. Está fazendo seu trabalho. Estou fazendo meu trabalho. Queimamos pessoas assim em Auschwitz, matamos estudantes no México em 68 repetindo jargões. Nos silenciamos no Chile em nome da ordem e dos bons costumes. Fechamos os olhos sobre o apartheid na África do Sul, por que afinal, "não era nosso problema".
Tenho mais o que fazer. Sou uma pessoa ocupada. Isto inclui ignorar, naturalizar, consumir. Reclamar, só nas horas certas, nas que me permitem.
Isto inclui fechar os olhos. Cerrá-los. Inclui apagar um pouco da minha, da nossa humanidade em troca da rotina e de seu condicionamento fascista. Pão e circo. Pão e circo para o povo. Pan e circo para o povo. Panegírico para o povo, e para o novo, por que um dia o novo virá.
Pedíamos por favor em um tom de voz baixo e lamurioso. Clamávamos por alguém que pegasse em nossas rédeas, por que foi assim que o aparato educacional resolveu nos criar. Nossa autonomia era um esboço. Nossa reação um suspiro. Você só segue ordens. Está fazendo seu trabalho. Estou fazendo meu trabalho. Queimamos pessoas assim em Auschwitz, matamos estudantes no México em 68 repetindo jargões. Nos silenciamos no Chile em nome da ordem e dos bons costumes. Fechamos os olhos sobre o apartheid na África do Sul, por que afinal, "não era nosso problema".
Tenho mais o que fazer. Sou uma pessoa ocupada. Isto inclui ignorar, naturalizar, consumir. Reclamar, só nas horas certas, nas que me permitem.
Isto inclui fechar os olhos. Cerrá-los. Inclui apagar um pouco da minha, da nossa humanidade em troca da rotina e de seu condicionamento fascista. Pão e circo. Pão e circo para o povo. Pan e circo para o povo. Panegírico para o povo, e para o novo, por que um dia o novo virá.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
VI Almoço Dançante Libertário!!!
VI Almoço Dançante
(com comida vegetariana)
Culinária mexicana
Organizado pelo Núcleo de Saúde e Alimentação Germinal
Será realizado Domingo dia 29 de julho no Centro de Cultura Social
O almoço será dedicado à culinária mexicana e à cultura popular do país. Cultura que, por sinal, nos últimos tempos tem dado belos exemplos de luta e organização autônoma contra as mazelas do capital.
Viva Oaxaca!!! Viva as comunidades magonistas e zapatistas!!!
Com convites individuais custando módicos 5 reais.
Quem quiser pode chegar na hora, pagar e entrar...
Mas caso queiram participar da cozinha e ou apenas confirmarem a presença, mandem e-mail para: poressasbandas@yahoo.com
Dica: Quem vem da Zona Norte (Rio) de ônibus, é só saltar perto do Shopping Iguatemi, na Rua Teodoro da Silva. Quem vem da Zona Sul, é só saltar no último ponto de ônibus da Rua 28 de Setembro.
O CCS é um espaço libertário voltado ao desenvolvimento de projetos comunitários e nossos almoços, além de possibilitarem o acesso a uma alimentação saudável e a informação, proporcionam aos seus participantes a oportunidade de conhecer os trabalhos aqui implementados.
(com comida vegetariana)
Culinária mexicana
Organizado pelo Núcleo de Saúde e Alimentação Germinal
Será realizado Domingo dia 29 de julho no Centro de Cultura Social
O almoço será dedicado à culinária mexicana e à cultura popular do país. Cultura que, por sinal, nos últimos tempos tem dado belos exemplos de luta e organização autônoma contra as mazelas do capital.
Viva Oaxaca!!! Viva as comunidades magonistas e zapatistas!!!
Com convites individuais custando módicos 5 reais.
Quem quiser pode chegar na hora, pagar e entrar...
Mas caso queiram participar da cozinha e ou apenas confirmarem a presença, mandem e-mail para: poressasbandas@yahoo.com
Dica: Quem vem da Zona Norte (Rio) de ônibus, é só saltar perto do Shopping Iguatemi, na Rua Teodoro da Silva. Quem vem da Zona Sul, é só saltar no último ponto de ônibus da Rua 28 de Setembro.
O CCS é um espaço libertário voltado ao desenvolvimento de projetos comunitários e nossos almoços, além de possibilitarem o acesso a uma alimentação saudável e a informação, proporcionam aos seus participantes a oportunidade de conhecer os trabalhos aqui implementados.
Centro de Cultura Social - Rio de Janeiro Rua Torres Homem, 790 – Vila Isabel – Rio de Janeiro CEP: 21.071-480 Telefone: 21-2520-7101 |
terça-feira, 10 de julho de 2007
Sobre as leis
As leis precisariam ser repensadas numa sociedade anarquista, não só o seu conteúdo, mas sobretudo a sua forma, ou seja, a lei enquanto lei, o direito enquanto direito. Penso que, para alcançar um estágio de auto-determinação e de autonomia, seria preciso, além de abolir o Estado, abolir também a Lei enquanto relação social. A Lei é parte fundamental do Estado - ele mesmo um "poder separado", ou seja, um poder que se define em contraposição à sociedade. Abolir o Estado implicaria a abolição da Lei e, consequentemente, abolição dos mecanismos de imposição da Lei - polícia, exército, tribunal e toda sorte de instituições repressivas. Mas seria útil, digamos assim, reconstruir o que foi destruído, ou seja, reconfigurar as Leis de acordo com um modo de vida mais livre, autodeterminado??
O anarco-individualista Stirner criticava tudo aquilo que se colocava para além do Indivíduo - o Estado, a Sociedade, Deus, a Ideologia, a Moral e inclusive a Lei. Stirner interpretava que o Egoísta ou Único não precisaria da Lei - os próprios Egoístas, em sua relação mútua, estabelecem suas regras de convivência, prezando pela sua unicidade egoísta.
Se pensarmos o objetivo da revolução como a valorização do indivíduo, a supressão contínua de tudo aquilo que existe "para além" dos indivíduos associados, então seria preciso abolir a Lei, pois ela tende sempre a se congelar e definir a conduta dos indivíduos, invertendo a relação sujeito-objeto. A revolução só pode ser aquilo que Castoriadis chamou de "auto-instituição permanente da sociedade", ou seja, os indivíduos associados configurando sua vida social/coletiva continuamente, evitando toda forma de reificação e falsificação da vida cotidiana (a falsificação se impõe quando as instituições tomam vida própria). E como pensar a vida após a Lei? Como se daria a auto-regulação da sociedade?
Temos que pensar que a vida seguiria um curso mais unitário, e que as necessárias regras de convivência não se estabeleceriam num campo separado da vida cotidiana. Não precisaria haver um "governo" ou mesmo auto-governo para fazer as leis, pois isso continuaria a ser heteronomia, ou seja, repetição do "poder separado" que é o Estado. A potência, as possibilidades de construção da vida social, uma vez liberada, estaria à serviço dos indivíduos na sua vida cotidiana, nas suas relações comuns entre si e destes com o mundo natural e social. As regras de convivência não se estabeleceriam a priori do relacionamento social, mas dentro deste e em conjunção com este.
O anarco-individualista Stirner criticava tudo aquilo que se colocava para além do Indivíduo - o Estado, a Sociedade, Deus, a Ideologia, a Moral e inclusive a Lei. Stirner interpretava que o Egoísta ou Único não precisaria da Lei - os próprios Egoístas, em sua relação mútua, estabelecem suas regras de convivência, prezando pela sua unicidade egoísta.
Se pensarmos o objetivo da revolução como a valorização do indivíduo, a supressão contínua de tudo aquilo que existe "para além" dos indivíduos associados, então seria preciso abolir a Lei, pois ela tende sempre a se congelar e definir a conduta dos indivíduos, invertendo a relação sujeito-objeto. A revolução só pode ser aquilo que Castoriadis chamou de "auto-instituição permanente da sociedade", ou seja, os indivíduos associados configurando sua vida social/coletiva continuamente, evitando toda forma de reificação e falsificação da vida cotidiana (a falsificação se impõe quando as instituições tomam vida própria). E como pensar a vida após a Lei? Como se daria a auto-regulação da sociedade?
Temos que pensar que a vida seguiria um curso mais unitário, e que as necessárias regras de convivência não se estabeleceriam num campo separado da vida cotidiana. Não precisaria haver um "governo" ou mesmo auto-governo para fazer as leis, pois isso continuaria a ser heteronomia, ou seja, repetição do "poder separado" que é o Estado. A potência, as possibilidades de construção da vida social, uma vez liberada, estaria à serviço dos indivíduos na sua vida cotidiana, nas suas relações comuns entre si e destes com o mundo natural e social. As regras de convivência não se estabeleceriam a priori do relacionamento social, mas dentro deste e em conjunção com este.
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